10 abril 2012

Sem-Abrigo somos todos nós


É facil chegar à rua e ficar por lá, mas não é fácil lá viver. Costuma dizer-se: cair na rua. Mas quem costuma são os que estão em casa, os que sempre tiveram casa e neste momentos estão refastelados no sofá a ler isto e por isso, não imaginam a facilidade com que as paredes se desfazem. Nunca ninguém pensa sobre os sem abrigos... aqueles que têm a fortuna imensa de já não ter nada a perder- por isso, podem dar-se ao luxo de ficar um dia inteiro deitado na areia a olhar o mar, de manter esse ritmo infantil de deslumbramento sem horários nem causas ou consequências. Os que olham as pessoas nos olhos para perceber de que são feitas. Podem pedir, mas não se vendem- quantos os que vivem dentro de portas conhecem esta dignidade? Não os tentem manter fechados em instituiçoes de ajuda que eles continuam a fugir para dormir sobre cartões num passeio da cidade. Porquê? Porque têm as estrelas a seu favor, e a solidariedade dos que, como eles, desistiram da vida dos cartões e dos deveres e da concorrencia. Na rua ninguém pergunta, ninguém pede contas, não é preciso dar resposta. Na rua pode-se chorar sem ter de dizer porquê. Sem-abrigo somos todos nós, e muitos mais os que vivem sob o tecto do exito e da falsidade, agarrados as paredes do poder, do que os que vivem na rua, sem nada e sem medo.

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traz a manteiga que eu estou com uma broa....... descomunal